Treinamento funcional, o que era para ser e o que virou
O treinamento funcional é um conceito muito interessante. Porém, se formos na origem, veremos que ele pode ser redundante. Todo treino, bem executado, tem que ser de ordem funcional. Como ser funcional é algo relativamente amplo e que envolve individualidades, muitas pessoas (mal intencionadas ou sem conhecimento) se usam do conceito para vender algo totalmente diferente. O que é pior, que não trará resultados para a saúde do praticante!
Entender que o treinamento funcional é uma metodologia séria e que precisa ser aplicada corretamente, é o primeiro passo para não cair nas mãos destas pessoas.
Treinamento funcional, entendendo o conceito!
Ser funcional é ter capacidade para suportar, de forma confortável e sem danos a saúde, aos estímulos da vida diária. Ou seja, você não precisa ser um atleta de alto rendimento para ser funcional. Neste sentido, a função do treinamento funcional é atuar na melhora de qualidades físicas que trarão esta condição. De forma simples, podemos dizer que são estas:
– Força;
– Resistência;
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– Flexibilidade;
– Agilidade;
– Velocidade;
– Equilíbrio;
Cada uma destas qualidades físicas, tem no mínimo mais duas variações. Por exemplo, força, temos pura, máxima, de resistência, de velocidade e outras.
Por isso, o treinamento funcional tem uma característica específica: ele é amplo e generalista.
Desta maneira, é fundamental entender que ele nem sempre se aplica da forma que vemos em muitos casos.
Silva (2011) mostra que o treinamento funcional está amparado na proposta de melhora de aspectos neurológicos. Estes, conduzem a capacidade funcional do corpo humano, empregando exercícios específicos e que estimulam diferentes componentes nervosos e qualidades físicas.
Ou seja, o treinamento funcional envolve sim, fundamentos neurológicos. Se formos até algumas décadas atrás, veremos abordagens muito próximas do que a fisioterapia fazia.
O que fizeram com o treinamento funcional?
Eis a questão. Transformaram um conceito fantástico, em um circo. Os profissionais e muitos leigos, não entenderam a forma de trabalhar, a metodologia. Misturam treinamento desportivo específico para determinados esportes, com malabarismos e exercícios inúteis. Resultado: um treino patético.
Aqui, já quero salientar que estou me referindo a profissionais desqualificados. Temos no Brasil, gente muito competente, estúdios de referência e muita produção acadêmica de alta qualidade.
O problema é quando alguém despreparado faz tudo errado. O pior, que ainda dá o nome de treinamento funcional.
Movimentos que não tem fundamento algum, muitas vezes executados de forma errada, ou então, cargas acima da capacidade do aluno. Estas são algumas das barbaridades que vemos constantemente nas redes sociais e em estúdios espalhados por aí.
Se não há um trabalho amplo, com diferentes qualidades físicas sendo utilizadas, não é treinamento funcional. Treinamento funcional, não precisa ser aplicado em 100% das vezes em forma de circuito. Fazer atividades de lenhador, não é treinamento funcional!
Desculpem o desabafo, mas me irrita ver pessoas de boa índole sendo enganadas. Um treinamento feito da forma errada, pode comprometer a saúde e não entregar os resultados esperados. Portanto, é perda de tempo.
Mas então, como saber se estou realmente fazendo treinamento funcional?
Treinamento funcional, a verdade!
D’Elia (2005) preconiza que o principal objetivo do treinamento funcional é promover a melhora e o resgate da aptidão pessoal de cada indivíduo. Para isso, utilizamos um planejamento individualizado e personalizado. A condição física do praticante não é fator limitante, já que para todos os casos, há possibilidades de adaptação e consequentemente, de melhora. Para isso, usamos exercícios que incluem atividades específicas do indivíduo e que trazem uma transferência para suas atividades do cotidiano. Desta forma, o trabalho com o treinamento funcional propõe trabalhar com todas as capacidades físicas do indivíduo e aprimorá-las. Isso, feito de forma integral.
Percebe o conceito? Veja que não há promessas de milagres estéticos. Esta citação, é de um dos precursores da modalidade no Brasil. Ou seja, a essência é esta.
Rodrigues (2012) dá as seguintes orientações para que possamos desenvolver um treinamento funcional de forma adequada:
- Treine o Core antes das extremidades.
- Treine estabilidade/integridade articular, para depois disso, trabalhar com maior mobilidade.
- Treine “movimentos” e não músculos de forma isolada.
- Um treinamento funcional otimizado, trabalha com ambientes multi-sensoriais, multi-planares e multi-articulares.
- Cada movimento funcional deve ser completamente dominado, em termos coordenativos, antes de mover para o próximo nível de dificuldade.
- Dar ênfase máxima na amplitude de movimento (de maneira segura).
- Domine movimentos com o peso do corpo, para só depois, adicionar resistências externas.
- Use a maior velocidade possível, desde que não haja perda de qualidade e controle dos movimentos.
Perceba que se formos analisar muito do que vemos como “funcional”, não se encaixa nestas características.
Treinamento funcional, devo fazer?
A resposta é simples: depende. Você prioriza o que? Resultados estéticos? Hipertrofia? Vá para a musculação! Quer resultados em sua saúde apenas e vê na estética algo secundário? Pode escolher tanto a musculação, quanto o treinamento funcional.
Tudo depende do que você busca e do que você acha que é mais interessante para sua condição.
Enfim, o treinamento funcional é uma modalidade fantástica, que pode ser usada, com benefícios, por praticamente todos. Mas ele precisa ser bem aplicado, de forma inteligente e estratégica. Bons treinos!
Referências:
D’ELIA, R; D’ELIA, L. Treinamento funcional: 7º treinamento de professores e instrutores. São Paulo, 2005.
SILVA, L. Revisão de literatura acerca do treinamento funcional resistido e seus aspectos motivacionais em alunos de Personal Training. 2012